terça-feira, 17 de agosto de 2010

Um enredo comum

Todas as tardes, ele sentava na mesma cafeteria, com seu Neruda e capuccino até que ela passasse. Julie saia do serviço às 6 e passava pelo outro lado da rua, a caminho de casa. Marcelo não se cansava de esperar para vê-la passar ao longe.
Um dia quis ver a moça de perto. Simplesmente chamou Julie, e esperou que ela se virasse para começar a tremer. Pensou, em um segundo, em todas as declarações já decoradas de tanto ensaiar em frente ao espelho, pensou em dizer-se apaixonado, pensou em roubar-lhe um beijo.
Perguntou as horas, apenas. Sentiu ódio quando ela virou-se para ir novamente embora. No dia seguinte, pediu seu nome. No dia seguinte, pediu para que se sentasse. Pediu então uma bebida. Pediu depois um beijo. Pediu para que ela ficasse. E ficaram.
Saíram depois. Juntos, infinitas vezes. Passearam, beberam, riram, brincaram, transaram e gozaram. Agora já não ensaiavam mais conversas, agora podiam gritar se quisessem. Gritando, brigaram.
Julie quis ir embora. Marcelo pediu um beijo. Pediu para que ela ficasse. Não bastava apenas olhar para ela. Precisava que ela fosse sua, apenas sua. Ela não ouviu. Teve ímpetos de ficar, mas decidiu partir.
Se a moça não queria ser dele por completo, bastava o corpo. Quando ela partiu, ele trouxe de volta. Trouxe apenas o corpo. O resto, foi para qualquer lugar. Marcelo, enfim, tornou-se dono de Júlia.

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