quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Clarisse

O vento gelado cortava-lhe a pele enquanto corria. Sentia cada pingo de suor que evaporava de sua pele, mas não queria parar. Ao contrário, não era capaz de correr rápido o bastante. Todo o seu corpo já lhe doía, mas Clarisse não iria descansar. Sentia seu pé bater com força no chão a cada passo, e seus joelhos fraquejaram para subir a escadaria do edifício; era seu prédio de trabalho. Clarisse não sentia vontade de se trancar em um escritório. Aquele dia não era para isso, queria se sentir um pouco livre. Já não via mais sentido em trabalhar tanto por uns trocos e sair beber no mesmo bar em frente de casa todos os finais de semana. O mundo todo agora se tornara um porre. Mostrou seu crachá ao passar pela porta da frente e cruzar o hall, ignorando os olhares curiosos para seu agasalho cinza encharcado de suor. Entrou no elevador junto com um Boy e muitos papeis. Olhava para cima: seu reflexo estava distorcido no espelho. Alguns fios desprendidos do seu cabelo_castanho e liso_ lhe cobriam a face, colados na pele úmida. Clarisse deixou o elevador e subiu 3 lances de escada, até o terraço. Era um dos prédios mais altos da cidade. Sempre gostara daquele terraço; era onde passava os poucos momentos em que fugia do escritório. Poucas pessoas subiam la, particularmente em uma manhã de segunda feira repleta de neblina e temperatura abaixo dos 8°C.
O lugar mais solitário da cidade. Deprimente... Estar em uma cidade com milhões de pessoas e não querer ver ninguém. Clarisse já não sabe o que sentir. Só pode lembrar de tudo o que já viveu. Do dia em que viu seu pai ir embora no meio da noite, das vezes que viu sua mãe bêbada, quando viu sua mãe enriquecer em um casamento relâmpago e quando saiu de casa para morar com uma amiga. Saudades da Lucy...das tardes perfeitas, das noites perfeitas, dos jantares e idas à praia. A única pessoa que a entendia, agora morava em outro país, com um musico rico que a levara embora. Clarisse estava sozinha há meses, e não agüentava mais isso. Sua cabeça está girando. Mas não, esta manha ela não bebeu nada. Se apóia à grade de proteção e se distrai com 2 pombas que passam meio perdidas. Por que as pessoas vivem? O que será que tem la embaixo? Sobe na grade. Seu corpo é pesado, a grade estala. Abre os braços e o vento faz doer sua pele. Seus joelhos fraquejam. Clarisse sente seu corpo fraco. Se solta.Cai.

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