quinta-feira, 8 de junho de 2017

Lentes

        Toni, enfim, conseguira o emprego de seus sonhos. Ou seria, caso recebesse salário. De todo modo, descobrira algo que o fazia feliz. Era um homem com um dom. Tivera sempre uma visão diferente das outras pessoas. Sabia ver a beleza de tudo. Fossem ruas quebradas, madeira podre, lixo humano, paisagens tediosas ou pessoas.
        Ah, principalmente se fossem mulheres. De todos os tipos, cores e tamanhos. Não importava se gorda, feia, suja ou doente. Sempre as achava maravilhosas. Sempre havia um ângulo perfeito. Assim, sabia ter nascido para ser fotógrafo.
        Mesmo antes de ter uma câmera, guardava os olhares. Tinha uma boa memória, sabia desenhar. Mas agora arranjara uma câmera fotográfica. Esta o fazia incrivelmente feliz. Onde visse coisas bonitas, registrava. Escondido por trás das cortinas da janela,, em seu apartamento de um quarto andar suburbano, Toni assistia a rotina de suas vizinhas, das moças que passavam na rua. De todas as mulheres. Elas passaram a encantar seus dias como nunca antes. Passeava pelas calçadas na "hora mágica" buscando imagens para registrar.
        Hoje sentou na praça sozinho. Olhava as gurias correndo, comendo e brincando. (Newto). Fotografava todas as cenas. Nada mais importava. Bastava para ele poder reviver aquele momento por quantas vezes bem entendesse. Algumas pessoas não gostaram. Se ofenderam. Vieram os homens. Maridos, pais, heróis. Quebraram a câmera. Quebraram Toni. Ele sangrou na praça, sozinho. Foi fotografado para o jornal da cidade.