sábado, 29 de janeiro de 2011

Escola

Na hora do intervalo as crianças brincam no parquinho do colégio. Jake assiste a tudo, sentado no bando em frente a sua sala. Ele já percebeu que não é como os outros. Por mais que a tia Tânia diga que ele é como os outros, acha que a professora não entende de nada.
Jake é diferente. Escolheu seu próprio nome, seus brinquedos, sua forma de agir... Mesmo muito jovem sentiu que o mundo não é como os outros esperam. Em sua ficha nunca veio escrito que era uma criança simpática, inteligente ou adorável. Pelo contrário, aprender a ler parecera um desafio muito maior do que para as outras crianças. As letras pareciam se embaralhar e as frases nunca faziam sentido, por mais atenção que prestasse. Sobre as contas, nem se falava. Como os outros colegas entendiam tão fácil a tabuada? A Gisele parecia ter nascido sabendo de cor a cartilha. Nada para ela era difícil.
Jake, no entanto, não suportava a escola. Nada era fácil para ele. Nem ir à escola, nem o recreio(as outras crianças sabiam irritar) e muito menos chegar em casa. Garoto algum merece um pai viciado, seja no que for. Meninos não deviam apanhar dos pais. Mas era assim que o tratavam.
Se ia ser fraco como seu pai, ele não tinha idéia. Apenas cansara de ir à escola e e assistir sempre às mesmas aulas. Garotos não sabiam o quanto doía seu riso, mas sempre sabiam o que a tia Tânia queria que respondessem. Jake mal sabia escrever seu próprio nome, talvez por isso escolhera outro. O prédio da escola era todo pixado por crianças rebeldes, as mesmas que não deixaram Jake entrar no parquinho.
Dessa vez Jake estava realmente cansado. Viu que em sua bolsa tinha espaço para um canivete a mais, ou o que quisesse levar. Ir para a escola armado fazia com que não sentisse medo dos outros colegas. Quando não soube responder a questão na aula de geografia apenas calou a boca. O riso dos seus colegas, porém, era extremamente irritante.
Sem aguentar as cócegas nos dedos, puxou o canivete da mochila. Será que os garotos já haviam rido o bastante? Maicon não parava, ninguem havia visto o canivete.. o riso de Maicon era o que mais doía.Mas Maicon realmente deveria morrer? Apenas por que Jake era um fracassado? Seus colegas podiam mesmo rir.. passou o dedo na ponta do canivete e viu o sangue.. sim, era afiado. Mas seus colegas apenas tinham agido como crianças que, afinal, eram. Não mereciam morrer por isso. Quem sabe algum outro dia. Dessa vez o melhor era realmente esperar a hora do recreio..
Deus, como a escola é um tédio..