segunda-feira, 17 de abril de 2017

Velha de verde.

      Era uma velhinha de verde. Essa era a imagem que descrevia Cecília enquanto passava pela calçada.  Corpo de quem ja tivera tantos filhos quanto rugas nos olhos, mãos de quem ja lavara toneladas de lençóis e pele de muitos dias em frente a um forno.
       Mas isso de pouco valhia. Não era possível imaginar sua história por marcas em sua pele ou uma encharpe verde. Apenas se poderia imaginar que Dona Cecília nascera ali pelo sul, em meio a um conflito de terras. Que ela engravidara sem aliança,  provavelmente num galpão solitário.  Que seu filho fugira para se casar com outro homem, sem sequer perguntar se teria sua bênção.  Que sua outra filha lhe dera sapatos e um  como presente de natal.
       De nada importava. Poderiam ser criadas infinitas histórias, adivinhados alguns passos.. O que realmente importava era aquela senhora de verde voltando para casa sozinha, onde teria que comer qualquer coisa e ir dormir sem ninguém para cuidar.

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