domingo, 2 de outubro de 2016

Baratas!

     Eu vi uma barata em sapatos de camurça. Calçava-os, enormes, em seus pés minúsculos. Pele morena, sapatos vermelhos. Digna de um retrato.
     Parou em minha casa pedir um farelo de biscoito. Conversamos sobre remotos tempos idos. O encanto das velhas almas de baratas idosas. Partem e renascem, passeiam sobre a carniça do mundo e se alimentam de nossas migalhas. Vestem saias de filó e passeiam por lojas de sapatos, arranjando pares de camurça. 
     Dona barata agradeceu-me o biscoito e disse que precisava partir. Iria viajar para o mar, nunca havia andado de barco. 

Antes que chegasse à esquina, contudo, um cavalo esmagou-lhe a cabeça com seu casco.