quinta-feira, 2 de junho de 2011

Infância

"Filha, fecha logo essa janela que entra vento sujo de fora!" Berrava minha mãe, com pressa de quem não queria queimar o feijão. Eu fechava. Enchia a cuia e esperava o ronco do mate, então almoçava calada.
A parte gostosa do dia era ficar do lado de fora. Caminhando a tarde toda, fingindo personagens, olhando o céu e distraindo o velho do saco, de quem todas tinham medo. Teve um dia que o velho apareceu pelado.
Quando chegava em casa sempre era tarde. Foi tarde quando cheguei depois do pai. Foi tarde quando levei bronca, quando comi o jantar frio. Foi tarde quando entrei e a mãe estava morta no banheiro. E agora, meu Deus, quem vai me ensinar a temperar o feijão?