segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Muito prazer!

-Com licença, senhor,
muito prazer,
a seu dispor sou o Tolo!
Assim se apresentava o distinto senhor
que tropeçava pelas ruas
quase que vestido completamente de farrapos
meio que tropeçando em seu chapéu
que por respeito tirava para quaisquer madames que avistasse
Baforando uma cigarro fétido e apresentando-se ao povo das ruas
Público que assistia desvairada apresentação
mendigos saltimbancos
carros poluentes
vendedores ambulantes
A beleza da cidade quando vista por baixo!
É que bairros pobres são feios mesmo
Tolo não sabia disso
sabia apenas que a vida era maravilhosa
ou que seria maravilhoso ter uma vida
Não que não tivesse uma história
Tolo apenas não se lembrava da sua
Nessas costumeiras brincadeiras do destino
perdera seu passado
esquecera por onde andava
e junto perdeu-se seu futuro!
Assim, de Tolo
todos chamaram o homenzinho sem futuro
sem vida e sem história
dançando com saltimbancos miseráveis
que cuspiam fumaça fétida
que comiam carniça podre
e tropeçavam pelos buracos
dessas ruas de bairro pobre
de uma cidade qualquer...
Tolo não se importava
não amava a vida que não tinha
mas a vida é maravilhosa
Apenas, então, repetia para quem ouvisse:
-Com licença, senhor,
muito prazer,
a seu dispor sou o Tolo!


PS: Drama dedicado a Michelle, a primeira pessoa que me falou sobre o Tolo!

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Um conto trágico

Hoje, meus senhores, vou contar uma história terrível. Não terrível como um conto de horror ou algo assim. É pior porque se trata de, acreditem ou não, uma história real.
Era uma vez homem que podia fazer tudo. Qualquer ideia que tivesse, bastava querer, se tornava realidade.Juro, meus senhores. Não se tratava de um mago, um feiticeiro ou algo assim. Ele simplesmente nascera com poderes sobre-humanos, e ninguém poderia explicar. Quando criança era maravilhoso. Ele sequer começava a chorar, e chovia leite sobre o berço. Simples assim, meus senhores.
Conforme cresceu, teve todos os brinquedos, conheceu todos os lugares e fez todas as coisas que deixariam qualquer criança louca de inveja. Aos 3 anos teve um pônei, aos 4, seu pônei criou asas. Com 8 anos assistiu a um show de strip tease da branca de neve(acreditem, meus senhores, muitos garotinhos sonharam com isso um dia) e com 11 pilotou seu primeiro avião.
O fato, meus senhores, é que eu poderia encher centenas de linhas com as façanhas do nosso herói, mas não vou fazê-lo. Minha história não se trata disso. O que estou contando é de como esse jovem enlouqueceu. Imaginem, meus senhores. Até seus pais enlouqueceram de ver o garoto conseguir tantas coisas, nosso personagem até que aguentou bastante tempo. Ao menos os pais dele não deixaram que o mundo conhecesse seus poderes. Viviam se mudando para evitar chamar tanta atenção, pois não queriam nem pensar nas consequências dessa história ir parar na televisão. Dessa forma, evitaram os holofotes sobre a criança.
Nossa criança, porém, cresceu. E como todo jovem, um dia notou que era diferente dos outros. Talvez mais diferente que o convencional, mas ainda assim, apenas diferente. Notou também que nem todos eram afortunados como ele, e que ele poderia mudar isso. Bastava querer. E assim foi fazendo, dava para as pessoas tudo o que achava que elas queriam. Comida, beleza, carros, dinheiro, mulheres e qualquer outra coisa que desejassem. Dessa vez, tornou-se famoso.
O mundo fazia fila para conhecer o garoto que realizava os sonhos dos homens, havia quem o idolatrasse, quem achasse que ele fosse um deus, um demônio ou qualquer outra coisa que pudessem pensar. Os homens tinham medo dele, mas mesmo com medo, não perdiam tempo em fazer cada vez mais pedidos.
O problema, meus senhores, é que o que os homens sonham raramente é o melhor para eles. Os desejos dos homens são insaciáveis, e homem algum tem tudo o que quer. Ao invés de fila para encontrar o menino, faziam guerras. Todos queriam ser mais fortes que os outros, queriam ser felizes e queriam ter poder. Na verdade, ninguém mais sabia o que queria.
Vocês sabem, senhores, como nós somos. Começamos humildes, querendo apenas o que basta para sobreviver. Depois queremos felicidade, riquezas, amores épicos... Terminamos querendo ser donos do mundo e, quando somos, desejamos ser pobres e livres novamente. E nosso garoto percebeu isso. Percebeu também que seu maior desejo não poderia ser realizado. Ele queria que a humanidade fosse feliz. Mas como fazer isso se os homens nem sabem o que querem?
E dessa forma trágica termina nossa história. Querendo ajudar os homens, nosso herói conseguiu criar um caos completo. Ao se dar conta disso, ficou completamente confuso. Oras, se ele sempre tinha tudo o que queria, pq não poderia ter felicidade? Assim, em um devaneio extremo, deu um fim súbito para sua existência: desejou nunca ter nascido.